quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Monografia Sensações sobre o Japão

DIÁRIO DE BORDO
SENSAÇÕES SOBRE O JAPÃO


Monografia apresentada à Universidade de São Paulo como requisito parcial à obtenção do Certificado de conclusão de curso de especialização

Orientador: Michiko Okano


São Paulo
2009
A proposta inicial é sempre o autoconhecimento, mas é muito curioso auto conhecer-se em uma cultura que presa a coletividade para manter-se coerente, não serei com certeza 100% científica nesta monografia, acho essa constância e obsessão pela constatação empírica, além de tediosa é: obsessiva, em se tratando de ciências humanas. Posso sim falar ao leitor, o que senti perante a pequena ponta do iceberg desta cultura fascinante, portanto útil ou não, falarei o que aprendi, já que é o mais obvio a se fazer quando estamos em um ambiente que presa o um pelo todo, como no Brasil ocidental conhecido, mas será?
Tenho Tevê a cabo em casa, para os delírios dos zappinhadores, desfruto de alguns canais de países muito distantes, um deles é uma pequena ilha, não menos importante, mas pouco conhecida, chamada Japão, o que todos ou muitos sabemos é que quando lá é noite aqui é dia, um fato curioso, pois de acordo com o astro reis, até nisso os japoneses estão a frente de nosso tempo, o que nos dá margens para pensarmos no tempo-espaço japonês, ou melhor terráqueo, em fim, sempre que coloco no canal Japonês, existe algo onírico e plástico passando, o que difere da minha primeira impressão em meu momento de aterrissagem, mesmo não entendendo muito a língua, da para perceber como Brasileira que sou, que eles estão escondendo algo, é tudo muito certinho, beirando a felicidade plástica de seus bonecos BUNRAKU, tudo fez sentido. Deste modo quando me deparei com nossa sensei (e muito mais) Michiko em sala de aula, repito aprendo com sensações, o que senti toda vez que sutilmente ela dava bronca em quem chegava atrasado a aula, ou em alguém que falava algum absurdo, me estralou na cabeça assim como em meu radar de jeitinho (falo isso piscando o olho esquerdo): isso é Japão, o que me deixou confusa a separá-lo de nossa sutil capacidade brasileira de fingir muito bem.
Eureka! Descobri o ponto em comum daquilo para aquilo outro, o Brasil oriental que estava procurando! Fiquei sabendo então que o Japão através das épocas desenvolveu um extrativismo cultural unilateral: a cada período que houve uma abertura de mundos sempre era de forma unilateral, não como os greco-romanos que misturavam e agregavam, mas o japonês “repagina” ao seu estilo tudo que lhe é agregado isto cria uma cultura ímpar de tempo e espaços peculiares ao modo geométrico do ocidente ver as coisas, um exemplo forte é a descaracterização do individuo pelo todo, o coletivo predomina pelo uni, todo o movimento e ação japonesa são movidos para o bem comum e para o coletivo, trazem isso com a idéia de MUHA (vila / aldeia / escola / empresa) onde o que impera é o bem da colheita de arroz, bem comum da empresa, manter a ordem na escola, estabelecer coesão, o coletivo, a segurança em detrimento da liberdade individual, fazia-se e fazem sempre tudo de acordo com uma entidade grupal, uma áurea, protetora e porque não: mantenedora da ordem, nesta vila você tem sua honra como a coisa mais importante, cria-se formas de tudo funcionar, como o KONE que é o convencimento de todos para uma decisão unânime antes do voto final da mesma decisão, ou o IJIME, que é a exclusão de um distante, um certo, Bullying permitido e aprovado na entrelinhas de crianças ou jovens capaz de isolar pessoas “diferentes” da sociedade ideal japonesa ou a capacidade da morte perdoar qualquer desonra, coisas incompreensivas para nossa vasta cabeça preocupada com o sucesso individual.
Afinal, é uma busca também pelo sucesso, mas o sucesso da constância, o sucesso do Japão como um todo, aqui estamos acostumados com o cada um por sim, e para eles o cada um não existe simplesmente, interessante? Aprofundo na questão e descubro que o buraco é bem mais embaixo, para eles o SOTO (fora) é sempre um estranho que deve mater-se perto do UCHI (interno) assim todos os movimento até os divinos (dos Deuses andarilhos) são de fora para dentro, e para o soto resta o TATAMAE a aparência, a maquiagem ou o OKURIMONO, aquele presentinho de fim de ano, sabe, daquela tia do interior que você certa vez hospedou em casa, aquela compota de doce, ou toalha de mesa com renda, isso é o padrão no Japão, manter a aparência a meninice a sutileza do: isso não te interessa, e por falar em renda, não posso esquecer nunca da perfeita analogia do TEMPURÁ que aprendi que se deve consumir fresco e se possível feito na hora, mostrando também o quanto esta constância é inconstante e o acaso deve ser respeitado assim como um Deus, mas porque tudo isso, sim, quero compartilhar aqui como um MABEMONO (jantar japonês onde todos comem na mesma panela) minha idéia, de trazer e mostrar o beneficio de ser como um japonês, mostrar a importância talvez do SHIZEN do valor do cosmos, da coexistência que eles tanto valorizam, e como isso combina perfeitamente com a plasticidade de suas vidas, acho sim que todos deveríamos ir além, e pensar como um pedaço do todo um CHÔKANZU (vôo de pássaro) não enxergar mais as coisas de maneira unilateral, minha para o mundo, mas sim integrar a forma cósmica de ver as coisas, e por isso temos sorte sim de estarmo nesta terra onde há uma das maiores colônias japonesas do mundo.
Explico sim porque! Neste diário de bordo notei que no Japão, o que importa é o caminho a ser trilhado (longe de mim, ter a pretensão de escrever verbetes de biscoitos de restaurantes orientais) e que tudo está, além de aliado à natureza, em construção, como se a vida em sim de uma pessoa só não mudaria em nada o caminhar do cosmos, o que nos choca e nos faz pensar em pensamentos paradoxais: como o Japones pode querer tanto a estabilidade de emprego (costumam ficar 60 anos em uma empresa) e ao mesmo tempo confiar sua vida ao acaso? Exatamente! Ai está um dos espaços-tempo do Japão, o aqui e o agora nos faz valorizar o momento, SAIBU, os detalhes, assim o caminho não é tão trilhado e coerente mas nos surpreende como pedras de um mosaico, existem, pontos chaves no caminho do jardim que vão sendo preenchidos de forma não linear, como eu jugo, seja a própria vida, ou não?
AH SIM! CHIJIME o minimalismo a essência, a redução à exaustão dos detalhes como as mascaras NÔ (mascaras que não tem detalhe de expressão quase que nenhum) o valor da sombra de como a natureza age, o valor do vazio do silêncio para prestarmos atenção em que realmente importa. Assim como esse texto, que não precisaria dessa overdose barroca brasileira, mas sim de apenas um HAICAI como este tirado de um livro de Afrânio Peixoto, de 1928, intitulado "O haikai japonês ou epigrama lírico - um ensaio de naturalização":

"Anch'io"
Na poça de lamacomo no divino céu,Também passa a lua.
Tudo isso para compreender o espaço-tempo MA, tese da Michiko personagem que encarecidamente nos emprestou com afinco seus pensamentos, sobre tudo isso, através de meu cérebro tatame, onde passa de tudo, conectei o espaço MA em alguns elementos aqui em nossa terra, que esta bem próxima a natureza, mas muito distante dela, como talvez a capacidade brasileira de se aproveitar virtualmente do tempo para tomar decisões, ou como, um som de cuíca em uma escola de samba findo carnaval, onde sua sonoridade é como um choro do BUNRAKU, ou um procissão a caminho da fé, ou um canto fúnebre perante um morto, ou a caminhada de muitos migrantes feita a pé do nordeste até alguma capital, o que nos torna semelhantes ou seres intermediários e também como uma variação da mesma coisa, mestiços com muita porcentagem japonesa. Alguns aspectos brasileiros, nos tora bem japoneses, a antropofagia, que acho sentimento legitimo, nos tornou um povo meio TEMPURA, só que requentado, o interesse incessante, por exemplo, do japonês de saber qual é sua colocação superior ou inferior, ao grupo, aqui é levado muito na esportiva, a ponto de você em situações burlescas confundir o empregado com o patrão, e visse e versa. Certa vez eu estava conversando com um amigo meu mecânico que já trabalhou na Toyota do Brasil, ele disse que em um encontro com os diretores, o chefe dele pediu para ele ir de terno já que se tratava da diretoria, chegando ao tal encontro, todos s diretores, segundo ele, estavam de calças jeans, e bonés, um dos diretores Japoneses, foi direto a ele e o cumprimentou, o agradecendo pelos ótimos números que a loja de São Paulo vinha trazendo, ele virou ao tradutor e disse Avisa o Japonês ai que eu só sou o mecânico... O chefe dele o queria constrangido e por isso o obrigou a colocar terno, o que nessa situação ficou de certa forma engraçado... e é mais ou menos assim que nos encaixamos no mundo por aqui...
Então irei tecer meus comentários e comparações assim como um caminho a ser interpretado e não um caminho que leve a algum fim, nós aqui no Brasil somos seres pitorescos, temos horror ao vazio, não o respeitamos em sua forma natura, como parte do todo, triste erro! Pois agimos literalmente de acordo com as possibilidades do vazio, tratamos os outros a princípio, ou até ouvirmos: você sabe com que está falando! Como café-com-leite, onde posso conseguir a vantagem neste meio, assim saindo sem quase nenhum dano de muitas crises e dificuldades cotidianas, contando sempre com o coletivo: Seja o que Deus quiser! Encarando o nosso SOTO sempre de uma forma maquiada, de segundas ou terceiras intenções, exportamos tudo e importamos tudo a mesma hora e lugar em uma velocidade singular, com uma quase que sociopata capacidade de se relacionar com o diferente (salvo exceções), não nos enchemos de maquiagem por aqui, pois nossa proximidade com o diferente nos é intrínseca, mas também cheia de poréns... Concluo que o que aprendi será essencial para a vida, e para entender um pouco como é o Brasil oriental, e como usamos das sutilezas de nosso exagero de uma forma a nos parecer bastante ao japonês em alguns aspectos da vida cotidiana, somos diferentes, mas somos seres de meio de caminho, dos quais a miscigenação nos torna espaços-tempo em processo. Então digo que o ponto comum entre o tempo japonês e tempo brasileiro talvez seja exatamente, o ser humano brasileiro sempre em construção, aliado a todas as praticas que nos torna também peculiares no mundo. Enquanto aprendemos aqui como nos salvar das coisas inesperadas causadas pelo humano, como crimes, corrupção, burocracias, falsidade, o japonês (não que não desfrutes destes raríssimos momentos também) encaram os inesperados terremotos e furacões com seus portáteis BENTÔS (marmitex sofisticados e preparados com muito cuidado) bem organizados, seus guarda-chuvas transparentes na direção da chuva (para se enxergar o passante a frente durante uma tempestade) e sua loucura organizacional de fingir estar tudo bem, mas chorando a noite em seu UCHI particular, assim sendo, gostaria de sempre ter a oportunidade aberta de usar o conhecimento que me foi passado de uma forma bem brasileira e transformar o modo de pensar sobre o Japão para aproximarmos nossos universos de forma plural onde povo aprende com povo, por tanto isso não para por aqui!

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Cura para Depressão?

Algo assolava a mente humana ou nada era o nome, como se todos fossemos uma coisa que não deveríamos ser únicos, essa sede pelo individuo que satã trismegisto reconforta e incentiva todos os dias nos travesseiros dos ditos “vencedores” é o que nos faz regorjear todos os dias nos almoços sós ou em família, deixamos a tevê muda, a fé muda, os médicos mudos, o fígado entupido de remédio e de tanta compilação, li outro dia nesses passatempos, põem-se duvida os remédios contra o mal do século, é lógico, é fácil dizer isso a causa não foi e nunca será conhecida se o nosso humanitas continur caminhando com passos largos para a maldita, bastarda, e inglória, evolução, guspa na cara vocês todos, de alguém que como eu ficou três meses de cama, sem sentido nenhum para a vida, com a cabra da morte berrando nos ouvidos, “ lero lero, estou perto de você”, venci, afinal nesse mundo de bosta é a única coisa que nos ensinam a fazer vencer, seja você até um segundo lugar, estou aqui escrevendo algo que se tocar e agradar ao público me dará valor... e ai que ta a bosta, Midas tudo que se toca hoje é ouro, tem um valorzinho agregado, e enquanto isso crianças vão se matando... e morrendo a alma que outrora não sabia o valor das coisas, a resposta não tenho, eu? A nós não foi dado nada, as chances de escolhemos outros caminhos, já se dissipou, a reação alérgica ... meus queridos... a Depressão, sim o preço de vendermos a alma tão baratinho... não proponho igrejas, nem nenhuma solução esdrúxula, livros nada irá nos curar, sem antes entendermos, que a falta da libido, pode estar na falta de alguma coisa que a humanidade deixou para trás, e que o mercado fez o favor de transformar em mercadoria, e diante de tanta oferta e procura de cura, eis que vos chega, placebos e pessoas incapazes de compreender, de olhar nos olhos e dizer e se derrepente essa pessoa, não está doente... eu e que estou, não temos que inventar outro mal a se curar mas desinventar talvez a loucura... recomendo a todos o Alienista de Machado, talvez entendam a complexidade, de colocar preço, e valores, em frases como, “mas nunca lhe faltou nada!”